quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dos Mortos-vivos aos Esquizos (transvimortos) e os Zombifieds

Muitas vidas foram sacrificadas e o Holocausto tornou-se infinitamente perturbável no inconsciente e consciente do mundo todo, uma questão planetária. Um problema político e tecnológico, de poder e saber, que nos silencia ao longo de um século. Seria possível o homem ser objeto e sujeito de conhecimento sem se abater sob uma perspectiva trágica? Trata-se da morte do homem?
Para analisar a concepção trágica da morte do homem delineada por Friedrich Nietzsche, analisam-se três perspectivas sobre os mortos-vivos, os zumbis, os muselmann, nos Lager: [1] A realidade da guerra que os seres humanos vivenciam na ficção de terror, mas que é descrito no século XX através da perspectiva geopolítica nazista: os Zumbis, ou mortos-vivos, a ‘fabricação de cadáveres’; [2] O paradoxo dos judeus e dos deportados na Alemanha serem denominados ‘muçulmanos’ nos campos de concentração, no holocausto, por Giorgio Agamben, máquinas biológicas que experimentaram a morte e a vida a partir de uma perspectiva de cobaias humanas; [3] A continuidade de experimentação biopsíquica com os esquizofrênicos (o transvimorto) e dos Zumbis monitorados por ‘agências’ norte-americanas (zombifieds).
Hannah Arendt em seu livro Origens do Totalitarismo argumentou que “morta a pessoa moral, a única coisa que ainda impede que os homens se transformem em mortos-vivos é a diferença individual, a identidade única do indivíduo”. Em Auschwitz não se morria: produziam-se cadáveres, cadáveres sem morte, não-homens cujo falecimento foi rebaixado a produção em série[1]. “Fabricação de cadáveres: já não se pode exatamente falar em cadáveres, a respeito do Holocausto[2], Giorgio Agamben, em O que resta de Auschwitz, descreve como uma inconsciente exigência de justificar a morte sine causa, sem causa, que atribui um sentido ao que parece não poder ter sentido: “a doutrina do martírio nasce, portanto, para justificar o escândalo de uma morte insensata, de uma carnificina que não podia deixar de parecer absurda. Diante do espetáculo de uma morte aparentemente sine causa [...] permitia que se interpretasse o martírio como um mandamento divino e que se encontrasse assim uma razão para o irracional”.
A expressão Muselmann (o muçulmano) – judeus e estrangeiros, inclusive alemães, presentes nos campos de concentração ao longo da segunda guerra mundial – termo que indicava os ‘mortos-vivos’, eram designados ‘muçulmanos’ por que, deportados, ficavam encolhidos no chão, com as pernas dobradas de maneira oriental, com o rosto rígido como uma máscara. O muçulmano (o muselmann) foi uma monstruosa máquina biológica, isenta de consciência moral e sensibilidade e estímulos nervosos, mas era o ‘nervo do campo’, apresenta-se como o não-vivo, como ser cuja vida não é realmente vida, cuja morte não pode ser chamada de morte – inscrito na vida de uma zona morta e, na morta, de uma zona viva.
Deleuze e Guattari, em O Anti Édipo, escreveram sobre o esquizofrênico, ele “está morto ou vivo, não ao mesmo tempo, mas cada um dos dois estados no termo de uma distância que ele sobrevoa, deslizando. É pai ou filho, não um e outro [...]. É trans-vimorto, trans-filho. Não identifica os dois contrários no mesmo, mas afirma a distância deles”. Nos Estados Unidos (pós-guerra ou guerra fria, na guerra eletrônica), mortos-vivos ou zumbis sob o objetivo dos controladores da mente – modificação do comportamento, Mind Control, sistemas de monitoramento remoto: induziam as pessoas ou grupos-alvo a agir contra suas próprias convicções e interesses, estes indivíduos zombified (jornal finlandês SPEKULA, 1999) podiam até ser programados para matar e não se lembrarem de nada depois do seu crime.
Slavoj Zizek, em seu livro “A Visão em Paralaxe”, demonstrou um tipo de monitoramento remoto (Ultimate Remote Control) que a mente poderia controlar os computadores, ao mesmo tempo, apontou, em “Em busca das Causas Perdidas”, hackers fundamentalistas, que não só lêem pretensamente os pensamentos como tentam roubar ou corromper arquivos: os atuais campos de concentração eletromagnéticos: das frequências das ondas cerebrais às frequências dos microcomputadores. Se não se tornaram a extensão dos Zombfied são as condições de possibilidades deles. Dos programas nazistas (eutanásia) aos programas de computadores: bem-vindos à sociedade de controle, biopolítica ou morte do homem! Operações Psicológicas!? Doença cibernética, guerra da informação...





[1] Martin Heidegger já havia recorrido em 1949 à expressão ‘fabricação de cadáveres’ para definir os campos de extermínio, segundo Agamben (O que resta em Auschwitz).
[2] Traduz o termo grego holókaustos, adjetivo que significa literalmente ‘todo queimado’, que corresponde a uma complexa doutrina sacrificial da Bíblia, indicando os sacrifícios dos Hebreus e o próprio sacrifício de Cristo na Cruz é definido como holocausto.

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